Com efeito, a visão economicista e numérica da criatividade é bem perigosa. Que o diga, por exemplo, Richard Florida que conseguiu, em simultâneo, por mais uns milhões de pessoas a falar sobre a criatividade, ao mesmo tempo que matou uma série de visões mais complexas e abrangentes do fenómeno. É assim, um pouco, como quando o poder cai na rua e todos começam a fazer o que lhes dá na real gana. A diferença é que, desta vez, o poder não caiu na rua mas sim a criatividade na mão dos políticos (por via dos tais lucros fabulosos com as indústrias criativas), o que é mais ou menos o mesmo.
Resta-nos a consolação de podermos contribuir para não deixar cair na lama aquilo que de mais belo pode produzir a inteligência humana, bem como para conseguirmos explicar que a beleza não é só apanágio dos grandes artistas, gestores, cientistas, desportistas ou santos, e que pode estar ali ao nosso lado, numa forma simples de limpar o chão de uma sala, organizar a festa da aldeia, ou despertar um sorriso de uma criança.
Procuremos, mais exactamente, que o dinheiro não destrua a arte, o que até parece fácil, uma vez que ele está a desaparecer dos cofres portugueses. Mas não é: mesmo o pouco que há pode ser dirigido a quem menos precisa, tal como a medalha pode ser dada ao cobarde e o esquecimento ao corajoso.
Eis, no meu modesto entender, uma missão nobre para este grupo - a afirmação da inteligência sobre a vulgaridade, naquilo que se pode considerar verdadeiramente criativo
Anónimo a 20 de Julho de 2011 às 23:12