Conceitos de ICC
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contributo de Alexandre Rodrigues a propósito do conceito de 'Indústrias criativas'
'Recentemente, têm sido propostos termos alternativos à locução «indústrias culturais», entre os quais a «indústria dos media» e «indústrias criativas» .
Alguns políticos começaram a usar o termo «indústrias criativas», facto que marcou uma transformação nas políticas culturais. Esta alteração terminológica não foi neutral , e este conceito desenvolve algumas tensões em volta dos vários temas da cultura, tecnologia e economia. Segundo Roodhouse (2006:17), essas tensões acontecem a nível estrutural e intelectual na relação entre os vários subsectores das indústrias criativas, e Galloway e Dunlop (2006:33-34) acrescentam que as tensões se situam entre o mundo do comércio e a arte. Para Roodhouse (2006:26), ultimamente, o debate em torno da definição de indústrias criativas pode ser caracterizado por uma luta entre a estética (elitistas) e os modelos de negócio (democratas). Como sectores das indústrias criativas temos as seguintes actividades: a publicidade, a arquitectura, a arte e antiguidades, os ofícios, o design, a moda, os filmes e os vídeos, o software de lazer, a música, as artes performativas, a publicação, os serviços de software e a televisão e rádio.
O conceito de indústrias criativas revela alguma falta de clareza teórica e, na perspectiva de Roodhouse (2006:20), a fraqueza e inconsistência da definição de indústrias criativas torna-se visível quando é necessário quantificar e determinar o valor artístico ou a estética do bem cultural. Neste contexto crítico, Galloway e Dunlop (2006:49) acrescentam que o interesse governamental neste termo é uma questão económica, pois a participação no PIB de actividades como a música e cinema é elevado. Novamente para Roodhouse (2006:15-18), o desenvolvimento das indústrias criativas está associado à definição e redefinição das artes como um sector industrial, e da relação das artes e dos media como uma indústria cultural. Os conceitos de indústrias criativas e indústrias culturais são muito diferentes no significado e no uso. As indústrias criativas têm origem na criatividade, habilidade e talento individual.
Segundo Galloway e Dunlop (2006:35), o governo trabalhista inglês, ao contrário do que sucedia em França e na UNESCO, colocou as indústrias
criativas na agenda económica e política, dado que esta tem um carácter mais democrático e unificador, entre a baixa e a alta cultura, entre a arte aperfeiçoada e popular, e entre a arte e a indústria. Este novo termo tem sido muito questionado, visto que não existe absoluta certeza se se trata de uma renomeação da cultura ou de uma simples mudança de linguagem política, de um exercício de marca ou de uma nova abordagem ao nível da política cultural. Além disso, e segundo um outro autor, O’Connor (2007:40-6), trata-se de uma renovação da marca.
Na definição de indústrias criativas perde-se o lado conotativo da cultura , mas ganha-se a criatividade da nova economia e as tecnologias digitais da sociedade da informação. O conceito de indústrias criativas também faz parte de um modelo de economia do conhecimento . Para Galloway e Dunlop (2006:44-45), o conceito de indústria criativa falha na sua relação com a economia ao distinguir entre as actividades culturais e as outras actividades, e esta falha gera dois problemas: primeiro, perdemos a capacidade e habilidade para mensurar a contribuição actual dos bens culturais num contexto de economia do conhecimento, ou seja, qual das actividades tem um efeito significante na economia; e em segundo, algumas actividades criativas falham na capacidade de distinguir o aspecto simbólico da cultura.
Segundo Galloway e Dunlop (2006), existem dois critérios das indústrias culturais que são comuns às indústrias criativas: criatividade e propriedade intelectual. A criatividade e propriedade intelectual são conceitos aplicáveis a qualquer indústria. Já o conceito do significado simbólico é um marco das indústrias culturais, tal como os métodos de produção à escala industrial, que não se encontram no termo «indústrias criativas.» Como já vimos anteriormente em Hesmondhalgh (2007), as artes criativas, como o teatro e as artes visuais, são periféricas às indústrias culturais, sendo que não empregam qualquer método de produção industrial."